quinta-feira, 19 de junho de 2014




Desde 1998, quando já programava em Visual Basic e Delphi, a maior novidade era a Internet com os seus 56kb de conexão de dados. Os sistemas eram centralizados e começavam a migrar para terminais e PCs utilizando uma arquitetura cliente & servidor. Cinco anos depois, a infraestrutura de comunicação melhorou, possibilitando empresas de médio e grande porte obter links via satélite e conexão ADSL, assim criaram seus próprios datacenters. A área de redes se tornou emergente e incluiu telefonia, vídeos e dados na mesma infraestrutura da empresa. Os sistemas desenvolvidos em Cobol foram migrados para ERPs e o que não era suportado em áreas de negócio específicas não era tão difícil criar um aplicativo personalizado em Delphi, Visual Basic e Access. Nessa época, estudantes de graduação e técnico se formavam em informática básica e havia muitos cursos de processamento de dados. Por consequência, a visão do mercado sofreu mudanças bruscas e o déficit de profissionais em TI já era uma realidade. A solução adotada por algumas empresas foi a oferta de vagas com treinamentos embutidos, onde a IBM era uma dessas empresas que ofereciam empregos com cursos de migração entre plataformas altas e baixas de forma recorrente entre 1999-2001 em São Paulo.

A partir de 2003 a Internet se tornou sólida e as pessoas tiveram acesso aos primeiros smartphones alguns anos depois. No Brasil 1/3 da população não tinha um computador, mas navegavam com mobilidade. Os negócios através dos dispositivos móveis começaram com os bancos do Brasil e Caixa, oferecendo mais facilidade no acesso às contas jurídicas através de aplicativos específicos com conexão segura via sockets e depois aberto ao público por meio da plataforma Java no celular.

A população em geral aprendeu a confiar no acesso virtual para acessar contas bancárias e realizar compras e o mercado cresceu além das lojas físicas, o que acarretou na segunda crise de profissionais, os de sistemas distribuídos pela Web. Mais uma vez, empresas como a IBM ofereceram um programa nacional de formação em aplicações escaláveis e distribuídas, dessa vez em parceria com SENAI/SENAC e conseguiram aumentar o contingente de profissionais para manter não só os seus negócios no país, mas os de outras empresas de TIC também.

Em 2010 smartphones e tabletes se tornaram comuns e mais de 2/3 da população mundial começaram a ler livros e usufruir de aplicações e jogos com maior facilidade de interação que um PC para se comunicar a distância. As redes sociais se tornaram parte da vida das pessoas e tornou-se muito mais simples criar, editar um vídeo e compartilhar na Internet. A infraestrutura de comunicação e dados das empresas migrou para o fracassado ASP (Application Service Provider) da década de 2000, agora com o nome de Nuvem. A aposta da Amazon para contornar os problemas de sobrevivência do seu negócio deu certo e a Microsoft, IBM e Oracle foram atrás.

Porém, o conhecimento em automação de processos de negócio utilizando diversos middlewares e plataformas específicas da Web 2.0 não é tão trivial. Não basta utilizar Ajax e aplicações Web comuns, é necessário construir aplicações cada vez mais customizadas com uma gama de frameworks para contornar problemas de performance e melhorar a experiência do usuário. Dessa vez, nenhuma empresa ofereceu um novo ciclo de aprendizado. Além disso, as universidades estão três décadas atrás do mundo corporativo e poucas atualizaram seu currículo. A consequência é que as empresas prestadoras de serviços em TIC não conseguem suprir a demanda atual em seus clientes.

A defasagem na formação em computação no Brasil é um aspecto relevante e que contribui com o apagão. Desde que decidi me tornar um arquiteto em 1996, até hoje não existe um curso de graduação que encurte esse caminho. Embora todos saibam que nos dias de hoje um arquiteto é fundamental para organizar tudo que existe no estado da arte das tecnologias empregadas nas empresas, dificilmente encontra-se um profissional desses. É necessário dezenas de anos de experiência, aprendizagem em gestão de projetos, processos de negócios, gestão de dados e infraestrutura, integrações com sistemas de hardware e software, além de codificação em diversas linguagens utilizadas nos ecosistemas das empresas. Portanto, um profissional que reúne competências de todos os perfis dos projetos tecnológicos, uma formação necessária, porém negligenciada pelas universidades brasileiras.

Muitos podem concordar que encontrar um arquiteto que reúna uma grande quantidade de competências seja realmente difícil, mas um simples desenvolvedor também é um entrave. Não existe mais o perfil de desenvolvedor, hoje, são praticamente engenheiros de software (engenharia apenas como terminologia, sem críticas por favor!). O desenvolvimento já era ágil quando sentava com os meus clientes e fazia os protótipos de telas funcionais em 2000 e 15 dias depois mostrava parte do sistema pronto conforme os requisitos acertados. Hoje, um sistema integrado às redes sociais do Twitter, Facebook, Linkedin e Slideshare, além de aplicativos Android, pode garantir uma vantagem competitiva à empresa que o lança primeiro. Não é mais admissível esperar meses para finalizar a elicitação de requisitos dos sistemas de software ou se perderá milhões de clientes em potencial. Dessa forma, não existe mais aquela conjectura de fábrica de software, o desenvolvedor é uma pessoa criativa, que contorna os problemas de comunicação e de negócios e está mais próxima do gestor, cliente e arquitetos. Ele não é especialista em uma linguagem, mas em uma plataforma inteira.

Na minha visão, a demanda por profissionais é uma consequência natural da evolução tecnológica, mas nos últimos cinco anos a falta de planejamento do mercado TIC (como um todo), por conta das diversas crises e necessidades de sobrevivência das empresas, perdeu-se o foco no mais importante para o suporte aos seus produtos: AS PESSOAS. É preciso retomar a mesma visão das soluções aprendidas no passado, que é o apoio à formação nas plataformas específicas ou então o apagão será ainda maior. 

Também nesse sentido, eu pesquiso arquitetura orientada a modelos (MDA) desde 2005 - um paradigma que facilita a criação de soluções tecnológicas para diversas plataformas a partir de um único modelo geral - não entendo como as grandes empresas formam consórcios como a OMG e W3C e, ainda assim, cada uma constrói sua plataforma específica. O que torna seus produtos restritos e dificulta ainda mais a absorção das novas tecnologias pelos profissionais. Se já é difícil encontrar profissionais, porque não oferecer uma plataforma comum que viabilize a implantação de paradigmas abertos como a MDA e SOA?

Inovar em tecnologia precisa ter sempre o foco nas pessoas. Espero que com a crise das redes sociais e smartphones, a geração da Internet das coisas (daqui a 3 anos) não tenha um impacto ainda pior (e acumulado) na geração de novos negócios pela ausência de profissionais competentes.

Proposta de solução: criar uma relação entre plano de vida e experiência do profissional x ciclo de desenvolvimento de produto  

Eu sou profissional e pesquisador, muita coisa que publico só vai ser utilizada pelo mercado 5 ou 10 anos depois. Quando me tornei especialista em SOA/BPM em 2006 era raro encontrar até ferramentas integradas com BPMN e geração de interfaces SOA. Tínhamos que escrever tudo na mão. Em 2 anos começaram a surgir vagas para duas plataformas ainda em formação, hoje são as duas maiores do mercado em SOA, apesar disso, formam-se poucos profissionais. Existe uma curva de aprendizado, todo mundo sabe, mas falta correlacionar isso a realidade de cada profissional em momentos de sua vida, vamos lá:

1) Desenvolvedor Jr estudante ou recém bacharel. Não compra muitos livros, assina revistas de tecnologias para se manter atualizado em uma plataforma específica. Plano de vida ainda em formação, mora com os pais ou saindo da república e percebendo que tudo que aprendeu na faculdade não serviu para muita coisa na vida real. Esses podem ser direcionados para tecnologias ainda não maduras, porque estão em fase de descobertas e possuem uma mente mais aberta e receptiva.

2) Desenvolvedor Pl graduado até 4 anos.
Já tem um certo domínio das tecnologias que trabalha e deseja se tornar arquiteto, especialista ou líder. Começa a pensar em cursos de pós-graduação, formação avançada e certificações. Compra muitos livros, porque os cursos das plataformas específicas são caros. Nesse nível, as tecnologias que estão em nível de aceitação no mercado e precisam de profissionais certificados poderiam aproveitar o plano de vida desses profissionais. Eles se dedicam sozinhos e ao se certificarem buscam novas empresas.

3) Desenvolvedor Sr a partir dos 5 anos de experiência.
Estamos falando de uma pessoa com quase 30 anos. Pensa em criar uma família, comprar um apartamento, fixar residência em qualquer lugar do país. Se for arquiteto, líder ou especialista não importa, o que a pessoa deseja é ter estabilidade financeira para tocar seu plano de vida. Essa é a faixa de idade que as empresas deveriam investir em treinamentos de tecnologias maduras, porque esses serão os profissionais que irão manter os produtos e a imagem da empresa a todo custo para manter o seu projeto de vida nos trilhos. Esses possuem muita cautela no investimento e aguardam novas tecnologias se tornarem maduras, por isso são os que mais tem dificuldade em se aperfeiçoar nas novas tecnologias. São a maior parcela dos profissionais de TIC.

4) Profissionais acima de 30 com mais de 10 anos de experiência. Esses já se tornaram especialistas em tecnologias maduras, grande parte são arquitetos, líderes e gerentes de projetos. Não precisam se atualizar em tecnologias com grande profundidade, apenas se reciclar, porque já possui seu próprio ritmo de atualização. Sabem quando investir em treinamentos e cursos e já tem um projeto de vida bem definido. Essas pessoas são os futuros gerentes de projetos ou arquitetos de soluções com expertise em diversas plataformas. Já passaram por muitas experiências de projetos, sabem lidar com clientes e possuem "feeling" para identificar riscos. Deveriam ser treinados na composição e apresentação de soluções corporativas, gerentes de projetos complexos ou portfólios de aplicações.

Sinceramente, como você acha que as empresas aproveitam esses profissionais em seu ciclo de produtos na realidade? Existe algum plano?



É claro que ao tentarmos definir qualquer modelo de classificação haverá exceções às regras. Em geral, é muito natural que pessoas mais jovens sejam mais abertas. Os mais jovens estão com plano de vida em construção, definindo requisitos e direções, portanto o plano de vida deles está completamente aberto à modificação. 

Pessoas mais maduras estão com o sistema em execução (mulher, casa, cachorro, filhos, sogra, mãe idosa). Poucos conseguem definir interfaces em seus planos as quais os permitam assimilar rapidamente inovações e aliar todo o seu conhecimento dependente delas. O problema dos maduros é ser o mais detalhista possível, aprofundando conhecimentos em uma tecnologia específica sem acompanhar a evolução do que acontece ao redor deles. Nesse caso, a inovação a ser gerada será dependente do conhecimento deles, portanto as empresas contratam pessoas mais jovens para inovar. É a realidade, mas não é o fim do mundo (veja o perfil 4 do post).

Lembre-se bem disto: inovar não é o papel de todos! Existem os que inovam e os que mantém a inovação. É o ciclo normal de produtos. Por isso, sugiro relacioná-lo com o ciclo natural das pessoas diante das suas próprias perspectivas de sucesso pessoal e profissional. 

Por ironia, as empresas reclamam que há um déficit de profissionais em TIC, quando na verdade não conseguem enxergar um grande capital intelectual embaixo dos próprios narizes. Muitas empresas descartam profissionais por pensar e manter seus departamentos completamente isolados. Por sinal, os gestores mal sabem avaliar subordinados e ainda mantém uma grande distância da vida pessoal deles. Em geral, essa falta de integração das áreas de negócios gera perdas enormes com contratações equivocadas e um grande problema de comunicação, já que suas ilhas não se conectam com as estratégias da empresa. Talvez, o primeiro passo seja alinhar as suas estratégias de negócio integrando os ecossistemas de produtos e serviços ao de retenção de talentos. Não é de pessoas que precisamos?

Google oferece curso que ensina como desenvolver aplicativos para o Android

terça-feira, 3 de junho de 2014





A escolha de um programa de pós-graduação não deve ser restrita a avaliação CAPES. Embora seja um fator importante a considerar, um programa que se mantém no topo pode promover pouca inovação nas pesquisas, focar na publicação de artigos e não na formação de um pesquisador completo. 

A partir de métricas internacionais, eu vou tentar traçar um perfil do que seria o melhor curso de pós-graduação, independente da sua área de pesquisa. 

Primeiro vamos desconstruir a ideia que um bom pesquisador é aquele que publica uma grande quantidade de artigos. Na verdade, um bom pesquisador possui características importantes que não são avaliadas por programas de pós-graduação: 

  1.  Ser bem educado 
  2. Ter capacidade de aprender sozinho
  3. Ter pensamento crítico
  4. Ser hábil em coletar, analisar e assimilar informações complexas 
  5. Saber gerenciar suas próprias atividades 
  6. Ter boa comunicação 
  7. Questionar as direções dos trabalhos científicos 
  8. Influenciar pessoas 
  9. Promover impacto social e 
  10. Contribuir significativamente com o crescimento da região e do país

Pessoalmente, eu considero um bom programa de pós-graduação aquele que reúne estudantes e professores com todas essas características. Nesse sentido, ter espaço para inovação, e não apenas repetir as mesmas direções das pesquisas, promove um desafio que desperta o meu interesse.  

Por acreditar nessas métricas, que são medidas por programas de excelência internacional, percebo que há uma divergência desde a seleção dos estudantes e durante a medição do desempenho destes na maioria dos programas de pós-graduação do país. 

Perceba que nas duas últimas décadas é comum encontrar bons pesquisadores e docentes formados com doutorado no exterior e estes são os que verdadeiramente têm promovido uma revolução nas regiões quando retornam. Um grande exemplo é o Silvio Meira, professor da UFPE e cientista chefe do C.E.S.A.R. 

Uma dica importante é escolher entre os programas de pós-graduação quais pesquisadores são bem formados, ou seja, possui todas essas características que podem ser repassadas para você. Veja se o grupo de docentes que atua no programa se formou em uma universidade de excelência internacional nesse ranking ou indiretamente através do ex-orientador do seu futuro orientador.

Não se apresse na formação de doutor, o mais importante é se aproximar das caraterísticas de um pesquisador completo . Por possuir características importantes de um pesquisador, terá muito mais chances de obter sucesso na carreira científica e ter o diferencial para se destacar da maioria. 

  
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