No Brasil é normal haver filtros ao longo da trajetória
de um curso de graduação (e pós) e geralmente não vejo uma avaliação cuidadosa dos
alunos reprovados. Talvez isso seja porque o foco principal do
ensino seja o CV lattes dos docentes, pelos artigos que ele publica com um determinado fator de qualidade. Então a forma de avaliação do ensino em uma universidade pública federal, infelizmente, é inexistente e o docente é livre para repetir a mesma forma de avaliação de séculos atrás.
A ausência de uma avaliação do trabalho docente permite que o professor seja livre para estabelecer seus filtros, onde geralmente predomina-se a lei dos mais fortes (os que conseguem aprender sem a necessidade de um professor). Os mais fortes são a minoria, cerca de 20% dos alunos, segundo um estudo apontado no WEI-2012 , o que significa que a longo prazo apenas aqueles que não necessitam de professores serão os candidatos a diplomação, e conseqüentemente trabalhadores com melhor remuneração e qualidade de vida. Assim, executa-se nas universidades brasileiras um sistema de avaliação cruel e injusto, pois não se ensina apenas filtra-se os bons alunos.
Aí eu pergunto a você: o que vai acontecer com os outros 80%?, o que será de um jovem que não teve oportunidade de aprender?. Você sabe, olhe nas sinaleiras, nas cracolândias da sua cidade e nos presídios para começar. Se não acredita em mim, continue lendo abaixo e veja a minha indicação de filmes.
A ausência de uma avaliação do trabalho docente permite que o professor seja livre para estabelecer seus filtros, onde geralmente predomina-se a lei dos mais fortes (os que conseguem aprender sem a necessidade de um professor). Os mais fortes são a minoria, cerca de 20% dos alunos, segundo um estudo apontado no WEI-2012 , o que significa que a longo prazo apenas aqueles que não necessitam de professores serão os candidatos a diplomação, e conseqüentemente trabalhadores com melhor remuneração e qualidade de vida. Assim, executa-se nas universidades brasileiras um sistema de avaliação cruel e injusto, pois não se ensina apenas filtra-se os bons alunos.
Aí eu pergunto a você: o que vai acontecer com os outros 80%?, o que será de um jovem que não teve oportunidade de aprender?. Você sabe, olhe nas sinaleiras, nas cracolândias da sua cidade e nos presídios para começar. Se não acredita em mim, continue lendo abaixo e veja a minha indicação de filmes.
Mesmo
um bom aluno (dentre os 20% que não necessitam de um professor) precisa
muita vezes assumir o risco de aprender e levar notas baixas porque não concorda em decorar simplesmente o que o professor quer ver nas provas.
Cito o brilhante Steve Jobs, que obteve várias notas baixas e largou a universidade em busca do conhecimento sozinho e o caso da FedEx, cujo o Fred Smith também obteve nota baixa no projeto de conclusão de curso e construiu a maior frota de aeronaves do
mundo. Fico pensando em outras áreas como medicina, biologia,
biotecnologia, etc... poderíamos ter avanços significativos para
resolver problemas
complexos da humanidade. Nesses casos uma nota alta significa seguir na
pesquisa e aceitar o modelo educacional que é oferecido. Isso é muito
frustrante para pessoas que buscam desafios, porque nos casos citados,
os
autores relataram claramente que desejavam resolver os problemas da
sociedade e não apenas tirar notas altas ou ser o primeiro da classe.
Sem dúvida, os estudantes
que vivem no século atual aprendem como no século passado e me pergunto
sempre se
um título de graduação de um cientista da computação do século atual
vale
realmente menos que um diploma de Phd de um século atrás, precisamos
refletir
muito sobre a forma de ensino atual, principalmente a forma de
atualização e
valorização dos professores (meritocracia) conforme o prof. Adonai também relatou no artigo.
Para um melhor entendimento sobre que escrevi até agora, recomendo o filme "Pro dia Nascer Feliz" que é um documentário
premiado sobre a realidade do ensino no Brasil. Com certeza muitos irão
se reconhecer nesse documentário e entender melhor as consequências desse filtro.
É muito importante identificar os professores nível 1,2 ou 3 (classificação retirada da última recomendação), não apenas para
punir, principalmente ajudá-los a alcançar o nível 3 ou até mesmo desfazer o
erro de que não possuem aptidão para docência, pois acredito que muitos são
levados muito mais pela “segurança” do serviço público. Também, ao assistir os vídeos fiquei pensando sobre quanto tempo é necessário para se formar um professor
nível 3 e quais funções poderiam ser definidas ao longo desse caminho. E os professores 1 e 2 atuais, como podemos ajudá-los
para aumentar o número de professores nível 3?. Sem dúvida podemos acrescentar várias questões, mas eu
acredito que o princípio de tudo é a avaliação, não podemos mensurar o que não
medimos. Vejo muitos professores nível 1 e 2 ficarem preocupados
com a existência de uma avaliação docente, por isso acho que a universidade deve,
primordialmente, dar condições de serem nível 3.
Poderia existir um programa de excelência docente de acordo com as condições de cada campus, indicando:
Poderia existir um programa de excelência docente de acordo com as condições de cada campus, indicando:
- (i) disciplinas que eles sejam capazes de lecionar com base em avaliações discentes;
- (ii) redução das suas turmas;
- (iii) apoio em cursos de qualificação;
- (iv) estabelecer parcerias entre professores de todos os níveis realizando seminários de docência;
- (v) monitorando as avaliações; e
- (vi) incluindo a avaliação discente.
Existem modelos
prontos, porém não podem ser facilmente adaptados por conta da singularidade de
cada campus, no entanto é possível, pois vejo alguns fragmentos pelo país. Em uma matéria publicada no mês passado, o prof. Gilson Volpato descreveu em uma entrevista para o Jornal do Brasil que o principal
motivo dos erros em artigos científicos no Brasil é que a redação científica ainda
representa o calcanhar de Aquiles de muitos pesquisadores brasileiros. E os erros
cometidos ao escrever uma tese ou artigo científico estão muito mais
relacionados a problemas de metodologia de pesquisa do que à
falta de habilidade com as palavras para apresentar os resultados de forma
clara, concisa e interessante. É necessário ter uma compreensão muito clara
sobre o que é fazer ciência para realizar boas pesquisas, que resultem em
artigos sólidos para serem publicados
em revistas de alto nível. A falta de comprometimento dos docentes no planejamento de suas aulas aumenta ainda mais a
falta de suporte para a própria evolução científica do país. O prof. Gilson Volpato adotou um modelo de redação científica itinerária, onde percorre as universidades para formar bons redatores que repassam seus conhecimentos através de hubs de escrita científica. Uma iniciativa única no país, que deveria ser replicada em todas as universidades brasileiras.
Notei outros modelos após
ler diversos comentários dos alunos do programa ciência sem fronteiras. Percebi que lá fora os estudos dão ênfase a utilidade prática, que
em primeiro plano melhora o entendimento e aumenta o interesse do aluno
pela
disciplina. O projeto pedagógico lá fora é levado tão a sério ao
ponto do professor marcar horários de atendimento para alunos de
graduação. Há uma carga horária de estudos muito bem planejada
para manter os alunos sempre interessados no conteúdo das disciplinas,
onde há equilíbrio para que ele estude todas por igual e um aprofundamento dos estudos por interesse do próprio estudante. Existem avaliações discentes após
o término de cada aula, o que enfatiza um verdadeiro compromisso com a melhoria do
ensino, pois eles sabem
claramente que o sistema antigo (estudar apenas
para tirar boas notas) é inútil e não gera aprendizado duradouro. Bem que poderíamos ter esse compromisso no Brasil...
Outras sugestões de leitura sobre o assunto (lista em constante atualização):
Jornal da Ciência
Blog do prof. Adonai
Sítio do prof. Gilson Volpato
Blog do prof. Palazzo
Diplomatique (Le Monde Brasil)
Blog da Dra. Suzana Herculano
Quem Quer ser Professor? Atratividade, seleção e formação docente no Brasil
A Evasão Estudantil no Ensino Superior Brasileiro
A civilização escolar como projeto político e pedagógico da modernidade: Cultura em classes, por escrito
Na Revolução Francesa, os princípios democráticos da escola pública, laica e gratuita: o relatório de Condorcet.
Medidor de Absenteísmo do Corpo Docente (Faltômetro)
38% dos estudantes de graduação no Brasil são analfabetos funcionais
Universitários desenvolvem portal que mapeia verbas destinadas à educação no Brasil
Computer science education done right: A rookie’s view from the front lines at Princeton
La Educación Prohibida (Filme Argentino)
Perfil da Produção Acadêmica dos Programas de Pós-graduação em Computação no Brasil (2004-2009)
Dinâmica de Coautoria dos Programas de Pós-graduação em Computação no Brasil
Formação de Professores para o uso da Informática nas Escolas: Evidências das Práticas
Comissão de Informática na Educação da SBC
Novos Rumos para as Universidades Brasileiras com Naomar de Almeida Filho (Vídeo do Colóquio de Junho de 2012)
On the Cruelty of Really Teaching Computer Science(E. W. Dijkstra Original Transcript 1988)
Brazilian Computer Science Research: Gender and Regional Distributions
Network of collaboration among PC members of Brazilian computer science conferences
Scientific Production in Computer Science: A Comparative Study of Brazil and other Countries
Assessing the Research and Education Quality of the top Brazilian Computer Science Graduate Programs
Ranking in Collaboration Networks Using a Group Based Metric
Group and Link Analysis of Multi-Relational Scientific Social Networks
Dados Estatísticos da Base de Currículos de Pesquisadores e Docentes Brasileiros - Painel Lattes CNPQ
How People Learn
What College Could Be Like (escrito pelo Communications of the ACM 01/2013)
Outras sugestões de leitura sobre o assunto (lista em constante atualização):
Jornal da Ciência
Blog do prof. Adonai
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Blog do prof. Palazzo
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A Evasão Estudantil no Ensino Superior Brasileiro
A civilização escolar como projeto político e pedagógico da modernidade: Cultura em classes, por escrito
Na Revolução Francesa, os princípios democráticos da escola pública, laica e gratuita: o relatório de Condorcet.
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