Análise do Perfil Docente: Uma Proposta para Acompanhar a Relação Docente-Componente Curricular
Resumo: A
ausência de estudos sobre a análise do perfil docente pode contribuir para a elevação
da taxa de evasão nas universidades brasileiras. A consequência é notada na dificuldade
de contextualização dos conteúdos programáticos pelos professores, o que
desencadeia a evasão do aluno desde o componente curricular até o curso. Este
trabalho apresenta de forma breve um processo para análise do perfil docente.
Uma abordagem top-down que permite
avaliar a aderência da escolha do professor ao componente curricular desde a
sua contratação até as competências desejadas e correspondidas diante de uma
avaliação discente.
Palavras-chaves: Ensino, Perfil
Docente, Universidade, Brasil, Ciência e Tecnologia.
Introdução
A área de Ciência da Computação
possui uma taxa anual de evasão acima da média nacional (Filho et al 2007) e
diversos sítios de notícias e universidades divulgam o problema de forma
recorrente nos últimos anos. A Universidade de São Paulo (USP) elaborou um
plano para apoiar o curso na instituição em 2010, por também destacar o alto
índice de evasão e baixa procura nos seus concursos vestibulares. Dentre os
principais motivos para evasão no curso de BCC (Bacharelado em Ciência da
Computação) da USP, a falta de contextualização das disciplinas básicas do
curso (e.g. física, álgebra, cálculo, probabilidade e estatística) é uma queixa
recorrente dos alunos e similar na maioria das universidades brasileiras
(Junior, 2010). A ausência de estudos sobre o paranoma do perfil docente,
geralmente confundida pela sua produção acadêmica, pode ser uma das principais constribuições
para elevação da taxa de evasão nessas instituições. A consequência pode ser
melhor compreendida na atribuição, durante e após a relação de
ensino-aprendizagem dos componentes curriculares juntos aos professores e
alunos. Seja por negligência ou falta de conhecimento específico, presume-se
que o docente possui todas as competências necessárias, embora o seu perfil
profissiográfico não tenha sido analisado em função das necessidades do
componente curricular. Como resultado, a dificuldade de contextualização dos
conteúdos programáticos é visível pelos alunos e desencadeia uma evasão do
componente curricular ou até mesmo do curso.
Neste estudo, será apresentada
uma proposta para melhoria do ensino de Ciência e Tecnologia em universidades
brasileiras para evitar a evasão. A proposta está fundamentada em um processo a
ser acompanhado pela pró-reitoria de ensino e coordenadores de cursos com a
finalidade de melhorar a qualidade do ensino através da análise do perfil
docente. A próxima seção apresenta uma idéia inicial da proposta e por fim, as considerações
finais e as referências utilizadas nesse estudo.
Análise do Perfil Docente
A análise
do perfil docente concentra-se em um conjunto aberto de atividades para
garantir a qualidade do ensino através de 5 processos principais: (1) analisar
a área de conhecimento e suas (2) sub-áreas, (3) analisar o componente
curricular, (4) atribuir o componente curricular ao docente, bem como (5)
prepará-lo e avaliá-lo após findar cada componente de acordo com os objetivos pedagógicos
e metas de cada curso.
Figura 1
- Visão Geral da Análise do Perfil Docente.
De acordo com a Figura 1, os
processo são abertos, pois não possuem precedência e podem ser executados em
paralelo de acordo com as atividades e necessidades acadêmicas. As análises das
áreas e sub-áreas de conhecimento corresponde a uma correlação direta entre
cursos e docentes da instituição de ensino, promovendo uma primeira visão top-down para suporte em diversas atividades
administrativas (e.g. contratação de docentes, planejamento de cursos, projetos
de pesquisa e extensão) e pedagógicas. É essencial para analisar a
correspondência do grupo de componentes curriculares que um docente poderá
atuar em um curso, conforme a Tabela 1.
Tabela1 –
Análise da Área e Sub-área de Formação Docente.
A partir da análise de áreas e sub-áreas por exemplo, foi possível
verificar a necessidade de contratação de docentes na Universidade Federal de
São Paulo com os dados coletados em sua própria página institucional, que são
abertos, de acordo com a matriz curricular do BCC e corpo docente (Tabela 2).
Tabela 2
– Análise das Sub-áreas de acordo com a Matriz Curricular do BCC.
Após analisar os concursos
atuais, a direção do campus com base nessa análise simples, poderia perceber
rapidamente que há carências de docentes em determinados componentes
curriculares (em amarelo) enquanto existem muitos docentes na sub-área de
otimização que só poderão ser aproveitados em poucas disciplinas do curso de
BCC. Embora a análise das áreas e
sub-áreas possam ser exploradas por múltiplas visões da pró-reitoria e
coordenação dos cursos ela não é suficiente para detalhar as necessidades de
atribuições e acompanhamento da qualidade do ensino, por isso são necessários
diversos dados que podem ser monitorados por sistema ou planilhas eletrônicas
com a finalidade de evitar a evasão dos alunos. Por conta do espaço limitado
apenas serão ilustrados alguns dados, porém as tabelas completas com sugestões
de dados podem ser vistas no anexo deste trabalho.
A Análise do componente
curricular é primordial para correlacionar o perfil docente necessário a partir
das exigências, competências e habilidades técnicas e instrucionais. A Tabela 3
expõe uma forma didática para avaliar as competências de acordo com dados
contidos nos planos de ensino e aulas, que são bastante utilizados pelos
docentes. Também é necessário adicionar a média das notas recebidas nas
avaliações discentes, tempo de dedicação a preparação das aulas, perfil dos
alunos que irão estudar o componente curricular para servir de base para uma
avaliação diagnóstica e a forma de integração com outros componentes
curriculares do curso.
Tabela 4
– Perfil Profissiográfico do Professor.
O trecho da análise do perfil profissiográfico
exibido na Tabela 4 poderá ajudar na escolha do docente adequado ao componente
curricular, não apenas relacionado dados diretos de acordo com o perfil docente
desejado, mas também por ter um histórico das suas atividade em cada componente
curricular que lecionou. Todos esses dados podem ser obtidos no próprio
currículo lattes atualizado do professor e também podem ser acrescentados dados
institucionais para detalhar a forma de contextualização do conteúdo
programático através da coleta de dados do sistema de avaliação discente.
Tabela 5
– Planejamento do Programa de Formação Docente.
A avaliação discente é necessária
para conhecer as inquietudes diante da contextualização do conteúdo
programático pelo professor e só poderá ser obtida através do contato direto
com os estudantes. É com base nessa avaliação que a universidade poderá
planejar cursos de formação para os docentes que não foram bem avaliados pelos
alunos e/ou pela própria universidade. Também com base na avaliação discente é
possível cruzar diversos dados sociais e acadêmicos para acompanhar a evolução
dos alunos cotistas, bolsistas, etc. Conforme a Tabela 5, a universidade poderá
incentivar programas de formação para melhorar o seu quadro docente de acordo
com as deficiências de cada professor. Entre os cursos ofertados, a preparação
de aulas, avaliações e utilização de recursos instrucionais deveriam fazer
parte do processo de atribuição de todos os componentes curriculares. Pois se
constitui em grande dificuldade para o professor pela inexistência de programas
de formação para professores contratados que desejam lecionar disciplinas em
outras sub-áreas de sua formação. Não obstante, todo esse ciclo de análise
deverá ser contínuo para que possa ser avaliado e melhorado constamente.
Conclusão
A
ausência de estudos sobre o paranoma do perfil docente, geralmente confundida
pela sua produção acadêmica, pode ser uma das principais constribuições para
elevação da taxa de evasão nas universidades brasileiras. Seja por negligência
ou falta de conhecimento específico, presume-se que o docente possui todas as
competências necessárias para lecionar, embora o seu perfil profissiográfico
nunca tenha sido analisado em função do componente curricular. Como resultado,
a dificuldade de contextualização dos conteúdos programáticos é visível pelos
alunos e desencadeia uma evasão do componente curricular ou até mesmo do curso.
Embora
este estudo tenha sido apresentado de forma breve, foi possível perceber rapidamente
uma inconsistência na contratação de docentes diante da matriz curricular de um
curso em uma universidade federal, bem como analisar a oferta e demanda de
docentes em relação aos componentes curriculares de um curso de Bacharelado em
Ciência da Computação da mesma universidade. Como trabalho futuro sugere-se uma
avaliação prática da abordagem com a utilização de dados reais e o estabelecimento
de um processo para coleta e avaliação da atribuição de componentes
curriculares aos docentes. O estudo poderia comparar as avaliações discentes
nas duas formas de atribuições de componentes curriculares: da forma convencional
e com a utilização da proposta exibida neste estudo.
Referências
- Filho, R. L. L. S., Montejunas, P. R., Hipólito, O., Lobo, M. B. C. M.. (2007) “A Evasão no Ensino Superior Brasileiro”. Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 132, p.641-659, set. / dez. 2007.
- Junior. J. C. P. (2010) “Apoio ao Bacharelado em Ciência da Computação”. Comissão de Coordenação do BCC, Departamento de Ciência da Computação, IME-USP, Universidade de São Paulo.
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