domingo, 4 de maio de 2014


Existem variáveis que impactam no desenvolvimento social de uma região. Por exemplo, idade, escolaridade, renda familiar, número de computadores em casa, escolaridade da mãe, escolaridade do pai, gênero e fluência em língua estrangeira, são as principais responsáveis por alterar o nível de inclusão digital. A consequência do nível de inclusão digital de uma região está diretamente relacionada com o desenvolvimento social dos seus cidadãos e de sua economia.

Em outra visão, o QUALIS existe para melhorar a qualidade da produção científica brasileira. Antes, a produção científica, na maioria das universidade, era de mais de 50% classificada nos estratos superiores, algumas mais de 80%. A CAPES então dificultou o aumento da publicação nesses estratos, reclassificando toda a produção científica pelo fator de impacto.

De 2009 até 2013, não aumentamos a qualidade da produção científica com a nova reclassificação. Na verdade, a qualidade da produção científica não caiu, continua a mesma, os estratos que foram reclassificados. Se a questão foi evitar o aumento da distribuição dos recursos de forma igualitária, que é a opinião de muitos, o argumento tem um grande suporte quando analisamos aspectos sociais. 

É lógico que as regiões com menor nível de inclusão digital terão ainda mais dificuldade para publicar nos estratos superiores. Entre os diversos fatores sociais e econômicos, um deles é fácil observar sem estudos aprofundados: o aumento do número de estudantes das regiões mais pobres do país nas grandes universidades brasileiras. Se por um lado tal fato seria um grande motivo de comemoração, já que o acesso as boas universidades estava restrito aos mais ricos, um problema grave está passando despercebido pelos governos: a diminuição do capital intelectual das regiões mais pobres aumenta a desigualdade social no país.

Em resumo, as regiões mais pobres têm se esforçado para formar uma quantidade maior de profissionais para atender as suas demandas sociais e econômicas, apesar das deficiências de recursos. Entretanto, o êxodo de estudantes para as poucas grandes universidades do país, elevando ou mantendo a qualidade dos programas dessas universidades, tem implicações.

É lógico, que os programas das regiões mais pobres não teriam como suportar o aumento da demanda, mas perdem justamente os seus melhores alunos quando estes estariam aptos a dar a sua primeira contribuição à universidade. Perdem muito com a ausência deles, já que boa parte dos recursos da pesquisa científica são liberados através da análise das publicações, assim faltam bolsas para manter o restante. Nesse caso, a taxa de desenvolvimento social é muito mais determinante no sucesso desses programas e a dificuldade em formar profissionais mais qualificados só aumenta.

Recapitulando até agora... Os procedimentos QUALIS-CAPES existem para melhorar a qualidade da produção científica brasileira. Depois de 4 anos não melhorou a qualidade, mesmo nas grandes universidades, e ainda contribui para o aumento da desigualdade social entre as regiões.

Primeiro dificultou o acesso aos recursos de metade das universidades brasileiras, reclassificando os estratos em 2009. Depois, diminuiu a principal fonte de sustentação dos cursos, a bolsa de estudos, forçando a migração dos bons estudantes para as regiões mais ricas do país. Como consequência, as regiões mais pobres, que possuem um baixo nível de inclusão digital, possuem maior dificuldade para publicar nos estratos superiores. Não conseguem reter os pós-graduandos, e assim, aumenta-se ainda mais a desigualdade social.

Segundo estudo realizado pelo IPEA em 2011, à adoção, pelas agências de fomento, de critérios de excelência no julgamento de projetos de pesquisa têm mantido as desigualdades regionais em CT&I no Brasil ao longo da última década. Nesse excelente estudo, também é aprofundada a análise do êxodo de estudantes para os grandes centros.

Ainda não analisei outros aspectos, por exemplo, a imagem da ciência brasileira no mundo depois da nova reclassificação. Nesse sentido, os escândalos proporcionados pela ciência brasileira que reverberaram, até na Nature, quando houve um esquema de citações para aumentar o fator de impacto de algumas revistas brasileiras na área de medicina. Ainda sobre a área médica, eles foram o que mais reclamaram da nova reclassificação, o que poderia até indicar que iriam fazer alguma coisa para burlar os procedimentos. Como muitos fazem, em diversas áreas, incluindo plágios e esquemas de co-autoria em publicações científicas.

Acredito que deveria haver mais estudos com essas visões, já que a principal motivação para a criação da universidade é o desenvolvimento social. Neste rápido resumo, é possível perceber que o QUALIS-CAPES além de não oferecer o suporte adequado para avaliar a qualidade da produção científica, contribui com a desigualdade social entre as regiões, o que vai na contramão da própria razão da existência das universidades. Afinal de contas, para que(m) serve a nova reclassificação do Qualis-CAPES?

Se você ainda não conseguiu entender que associar políticas públicas para combater a desigualdade social, além de dever do estado, pode causar um impacto positivo em toda a sociedade, veja o documentário premiado abaixo: "A História da Pobreza: Por que a pobreza?"


 
Não conseguiu entender ainda? Ok, então veja como a sua vida corre perigo nas mãos de estudantes sem futuro das regiões mais pobres, que ainda menores e sem perspectiva, são os maiores produtores de violência no pais. Essa é a principal consequência da desigualdade social que afeta todos nós diariamente e por todo o Brasil, veja aqui no Mapa da Violência.

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